A Confissão da Leoa - Mia Couto
- Jaíne Sangon
- 21 de mar. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 7 de ago. de 2020
(As partes destacadas de Azul contêm spoilers)

Você se lembra de um livro que já leu e o considerou impressionante? Pois bem, A Confissão da Leoa é esse tipo de livro.
Baseada num diário escrito pelo próprio autor, o africano Mia Couto, a história mistura realidade com misticismo, ficção e mistérios que são revelados de uma maneira bem singular. O romance vai encucar sua cabeça, você gostará da sensação e se surpreenderá.
A história é dividida em duas versões, a de Miramar - mulher pobre da aldeia de Kulumani - e do diário do Caçador - homem de fora da aldeia que caça leoas.
O governante da cidade e sua esposa chamam o caçador para que ele vá até a aldeia caçar as leoas que estão matando as mulheres de lá. Uma dessas atacadas e mortas foi a irmã de Miramar.
Miramar, por ser a única filha sobrevivente, sofre todos os males que uma família daquela aldeia pode causar. O enredo se desdobra nas tradições que humilham e limitam as mulheres, as tornando propriedades, submissas e objeto dos homens, sejam eles da rua ou de dentro de casa. Histórias do passado são contadas e trazem à tona personagens marcantes, como a mãe, pai e avô de Miramar.
Já o caçador, que tinha o objetivo de caçar as leoas (função que acaba sendo realizada pelos próprios moradores), caça a si mesmo, se redescobrindo enquanto um ser não humano, mas bicho. Ele relembra e procura entender acontecimentos que o moldaram, como a relação de sua mãe e pai, o assassinato de seu pai, a loucura de seu irmão, sua cunhada, por quem nutre imenso amor, e sua ligação com a escrita.
Miramar, ao ver o caçador, revive em seu corpo um antigo encontro entre eles, e retornam os sentimentos amorosos e sensuais que teve por aquele homem. No entanto, somente ela o vê, ele não a acha, talvez porque não a procure.
A história se desenrola com as misteriosas aparições das leoas e segredos que elas deixam em seu olhar e nas águas do rio da aldeia. Miramar sente intensa conexão com a leoa, às vezes pensa ser sua irmã, às vezes pensa ser ela mesma, e bem que queria, leoas não estão sujeitas a se desgraçar submissamente na mão dos homens. Talvez por isso a confissão da leoa seja: A mãe de Miramar, que tanto sofreu por ser mulher, vai atacando suas iguais, uma a uma, para que não tenham que viver naquela aldeia tão perversa e opressora com o ser feminino.
A leitura é densa e eu lerei novamente para ter a oportunidade de refletir mais uma vez com a escrita enigmática de Mia Couto, ganhador de Prêmio Camões.
Editora: Companhia das Letras
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