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Amor sem miséria: Mil sentimentos de Milsou Santos

  • Foto do escritor: Jaíne Sangon
    Jaíne Sangon
  • 2 de ago. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de ago. de 2020


Capa do livro. Arquivo pessoal. (as listras são sombras)

  Comecemos pelo título, "Amor sem miséria". Por um segundo foquei nestas três palavras e automaticamente sorri. Como é bom um amor sem miséria, o amor por amor, porque é o que temos para dar. 

  Milsou Santos, por vezes poeta, por vezes ator, por vezes pedreiro, e outras coisas mais, é negro e baiano, mas também está em idas e voltas com o Rio de Janeiro. Conheci a escrita de Milsou a partir de seu livro Pássaro Preto, naquele momento, um sentimento bom nasceu em mim por aquelas palavras e por aquele escritor. 

Milsou Santos, fonte: Portal Sotero Preta (Clique na imagem)

  Alguns anos depois, uma querida professora me presenteou novamente com outro livro de Milsou: Amor sem miséria. Eu estava na escola, esperando uma prova de biologia pela tarde e, enquanto almoçava na sala, sozinha, peguei este livro que, além de sua estrutura física belíssima e aconchegante, é realmente feito de texturas. Ah (suspiros), eu fui feliz lendo os poemas, e ainda sigo sendo e lendo-os.  

  É um livro de um pouco mais que 80 páginas, com textos e ilustrações, são 31 poemas que, ah, provocam mil e uma sensações que Milsou soube transmitir. Ele procura falar de nós, negras, negros e negrxs, mas não só da nossa vivência e história, sobretudo - e é isso que me encanta nele - sobre nossos sentimentos e pensamentos. Milsou, com suas palavras diretas, mas poéticas, revela o nosso cotidiano que é permeado pelo racismo. 

  Ele tenta mostrar que a estrutura racista a qual estamos submetidas, nos afeta. Afeta o nosso trabalho, o nosso lazer, a nossa morada, o nosso jeito de ser, de pensar e afeta o nosso amor. Mas, apesar disso, nós continuamos com a capacidade de sermos afeto. E é isto que precisa ser mudado na mentalidade, não só da branquitude, mas da negritude também. Elas e eles precisam aprender que nós também amamos, e a gente necessita se lembrar que merecemos amar, independentemente do racismo que nos dá baques diariamente, principalmente nas nossas mentes.

  Preciso destacar uma característica impressa nos livros de Milsou, que é o amor de Dandara e Zumbi, ah! Acredito que alguns olhares vão dizer que os poemas em torno desse romance são ilusórios, uma verdadeira utopia, já que Zumbi divide as tarefas domésticas, é pai presente, repensa seus machismos e faz gozar. Já eu prefiro olhar pelo sentido do: É possível. Fica explícito na poesia, que Zumbi não é perfeito, não é o "par ideal", ele é todo errado (risos), mas ele, no dia a dia e nas experiências com Danda (já dei apelido), vai errando, mas se disponibilizando a aprender e a acertar. 

Arquivo pessoal
Foto do poema e ilustração "Aprendente Zumbi"

  Danda representa as nossas mulheres e Zumbi é uma outra visão que, acredito, devemos começar a ensinar (para quem é mãe e pai de meninos) e perceber o homem negro. Um homem que pode ser parceiro, companheiro, cheio de defeitos, mas que não é um embuste, é um homem que tá ali querendo viver, amar, ser amado e se transformar. Eu leio os textos sobre Danda e Zumbi e sempre termino emocionada, seja porque olho ao redor e vejo que ainda estamos distantes dessa forma de se relacionar, com respeito, sem posse e com aprendizado, seja porque Milsou mostra uma porta de novas vivências, de novos amores, de novos sabores, de novas texturas... 

 Fiquei muito heterocêntrica, né? Calmaaaa, Milsou também traz para seu livro a diversidade. Inclusive, um dos poemas que mais amei, é o sobre duas garotas, verdadeiras flores. Os poemas são sensíveis e abrangentes, todo mundo que é amor, apesar da dor, se encontra neles. E mais, referências é que não faltam neste livro. No início da leitura, somos uma pessoa, no fim, somos várias cabeças com mente crítica e um coração pulsante, enérgico e pronto para viver. 

Arquivo pessoal
Foto do poema "Jardim do Quintal"

    


Eu te amo

Não use "eu te amo" como se fosse vírgula, 

criatura;

eu te amo, 

mesmo,

é o início,

meio e fim de uma textura


- Milsou Santos



Fundamental


Colho saberes nas vaias,

não me perco nas palmas e uso,

constante e cautelosamente,

a minha lente ancestral.

Quando se é Preto,

agir assim é fundamental.


- Milsou Santos


Milsou é denúncia, é empoderamento e é amor. É amor sem miséria, apesar das misérias.



2019



Link de declamação poética de Milsou, Pássaro Preto: https://www.youtube.com/watch?v=lC2XY4ijWE8


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