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Na nossa, na sua, "Na Minha Pele" - resenhando um dos livros do Lázaro Ramos

  • Foto do escritor: Jaíne Sangon
    Jaíne Sangon
  • 1 de fev. de 2022
  • 2 min de leitura

Na minha pele foi publicado em 2017, pela editora Objetiva, e tem como autor o ator, escritor e diretor Lázaro Ramos. Não é um livro autobiográfico, nem literário, nem sociológico, mas passeia pelos três e por mais campos.

A obra apresenta diversas reflexões, mas como já sugere o título, a capa, e sendo o autor uma das maiores personalidades negras de destaque no país, e de grande reconhecimento no exterior, identifica-se que as questões que permeiam a vivência negra no Brasil são o foco da escrita. Os textos que compõem as 147 páginas, dividas em capítulos, fazem jus ao que se espera da leitura, diante dos indícios iniciais ao se ter o livro em mãos.

Lázaro começa em tom autobiográfico (apesar dele mesmo afirmar não ser uma biografia), mas também literário, pois nos permite novas formas de leitura, com estilos e possibilidades muito semelhantes aos da literatura. As primeiras páginas contam sobre uma ilha em São Francisco do Conde, aqui no recôncavo baiano, a Ilha do Paty, onde nasceu o autor. Nessa parte a escrita é acompanhada de um tom quase mágico, regada de espiritualidade, religiosidade, identidade, ancestralidade e cultura.

O autor, no decorrer das páginas, segue refletindo sobre acontecimentos marcantes da sua trajetória de adolescente e de adulto, já fora da Ilha, em Salvador e no Rio de Janeiro, por exemplo. Pondo sempre a sua pele negra como cerne das vivências, afinal, nós, indivíduos negros, enfrentamos diversos obstáculos por causa da cor da nossa pele, da nossa etnia e da nossa descendência africana. E o Lázaro também sentiu e sente os efeitos de uma sociedade racista, mesmo que ele atualmente já possua reconhecimento por seu trabalho, elevada condição financeira e prestígio.

A escrita vem em tom confessional, o autor nos coloca como figuras de amizade, e traz um ar de diálogo a todo instante. Ele não busca fazer afirmações, mas conversar, provocar, refletir, apresentar seu ponto de vista, mas, com esse feito, autoquestionar-se sobre mais ideias acerca de como ele vê o mundo e suas relações sociais. Percebe-se que ele se preocupa em poder contribuir um pouquinho com suas visões, mas está aberto a aprender, e quer isso, por ele, pelo planeta e por seu filho João e sua filha Maria. O livro, inclusive, traz um pouco da dinâmica do programa Espelho, apresentado pelo autor, que busca dialogar, trocar e aprender com as pessoas entrevistadas.

"Na minha pele" é completo de referências e citações à importantes personalidades negras, sejam da filosofia, da literatura, da música, ou de outro campo, inclusive o familiar, pois as palavras de Lázaro demonstram estar acompanhadas da sabedoria da "Tia Dindinha", tia do autor e importante figura feminina apresentada na obra.

O livro é leve, rico em cultura, mostra a baianidade, permite-nos conhecer um pouco da trajetória do ídolo, é transparente e nos dá a sensação de identificação, pois não nos traz respostas, pelo contrário, provoca-nos mais dúvidas, mas também impulso e desejo de contribuir para transformar a realidade de um país tão desigual, seja por que meio for, pelos cargos políticos, pela arte, pelo afeto... Um ponto é certeiro: com este livro, só quem não quer não enxerga a realidade brasileira.



 
 
 

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